Desde a antiguidade é comum decantar um vinho. Entretanto, os romanos foram provavelmente os precursores no uso dos modelos de vidro como conhecemos hoje. Mas qual é o motivo do seu uso?

Decantar significa basicamente livrar um líquido de suas impurezas. O processo é feito desde os primórdios mas nem sempre teve esta função e nem feito dos materiais que conhecemos hoje. Os romanos foram provavelmente os primeiros a usar decantadores de vidro, mas outros com materiais como cobre ou prata. Ao invés de usados para decantar um vinho, tinham a função única de transportar quantidades menores da bebida entre as grandes ânforas.

Função

Como dito anteriormente, a função inicial dos decanters era transportar o vinho das ânforas até as mesas. Porém, também decantavam possíveis resquícios sólidos contidos na bebida, principalmente devido aos vinhos não filtrados ou clarificados. Sendo assim, era preciso decantar a bebida para separar essas partes sólidas. Na maioria das vezes, essas partes são inofensivas à saúde, entretanto são desagradáveis ao olhar ou até mesmo ao paladar. Podem prover um sabor levemente amargo e uma percepção de adstringência maior que o normal.

Hoje o cenário é outro. Produzidos em sua maioria em vidro, possuem a função principal de aerar o vinho ou, como costuma-se dizer: deixá-lo respirar. Dentro da garrafa, o contato da bebida com o ar é quase nulo, acontecendo apenas através dos poros e espaços das rolhas de cortiça. Então, quando vertido no decantador, o vinho entra em contato com o ar e aí desvenda seus aromas e sabores, ganhando vida.

Como decantar um vinho?

Se seu objetivo é apenas aerar o vinho, o processo é bem simples. Basta abrir a garrafa, pegar o decanter e verter o líquido. De preferência, fazendo-o escorrer pelas paredes internas do recipiente. Desta forma, a maior superfície da bebida entrará em contato com o oxigênio e, com isso, liberará os aromas mais facilmente. Se quiser (e achar necessário), também pode agitar o decanter. Da mesma maneira que agita uma taça (segurando pelo pescoço do decanter) para volatilizar o álcool.

Já para os casos onde o objetivo será livrar o vinho de resquícios sólidos (como o caso de vinhos não filtrados) o processo é um pouco mais complexo. Primeiramente, pegue a garrafa e deixe por um bom tempo na posição vertical (algumas horas ou até mesmo um dia antes é o ideal – quanto mais antigo o vinho, mais tempo é necessário) para que os sedimentos se acumulem no fundo.

Pegue uma vela ou uma outra fonte de luz e a coloque em uma posição na qual, quando estiver derramando o vinho no decanter, você possa observar a luz brilhando através do líquido que passa pelo gargalo. Fique atento até que enxergue os sedimentos. Quando percebê-los, pare de verter o vinho antes que eles entrem no decanter. O líquido que sobrar na garrafa ficará com os resíduos. Caso ainda queria aproveitar o restante da bebida, use um coador fino (como um coador de café, por exemplo), mas evite misturar essa sobra com o que está no decanter.

Saiba quando decantar

Não é difícil notar o quanto o efeito da aeração é interessante para alguns vinhos. Se você costuma ser um degustador paciente e é daqueles que sempre deixam um fundo de líquido na taça, certamente já notou a mudança dos aromas mesmo durante a sua degustação.

Não existem regras absolutas quando se trata de decantar um vinho com o intuito de enaltecer seus aromas ou suavizá-los. Alguns críticos acreditam que um vinho envelhecido, mas ainda delicado, submetido à enorme presença de oxigênio do decanter poderá perder o pouco dos aromas que lhe restam e, assim, uma enorme parte do charme de se guardar uma garrafa por um longo período. Esses são, obviamente, contrários à decantação para alguns vinhos.

Apesar de o processo ser mais indicado em fermentados jovens e potentes, muitos especialistas, por outro lado, não são contrários à decantar vinhos mais delicados, como os Pinot Noirs borgonheses, por exemplo, e até mesmo brancos de maior porte. Alguns, por sua vez, preferem, ao invés disso, apenas abrir garrafas especiais (vinhos mais antigos de grande potência) horas antes de uma degustação, para que o contato com o ar ocorra no próprio gargalo da garrafa e não seja tão intenso quanto o líquido decantado em um recipiente de bojo grande.

 Apesar de certos especialistas não acreditarem que a decantação é um processo que contribui com determinados vinhos, outros são da teoria de que absolutamente todos os fermentados podem passar por decanter e, com isso, obter algum ganho – até vinhos simples, de consumo mais imediato.

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